Com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti, produção da Base7 e realização da Cia das Licenças, a exposição reúne cerca de 40 trabalhos de artistas brasileiros e internacionais. O passar do tempo constitui o elemento central das obras, seja do ponto de vista da reflexão filosófica, seja num sentido processual, dos dias levados para a realização do trabalho.
A mostra abre com 4’33”, do compositor americano John Cage. Apresentada pela primeira vez em 1952, a música não possui nenhuma nota. Durante os 4 minutos e 33 segundos, o pianista permanece sem tocar, chamando atenção para os ruídos da plateia, que também seriam considerados parte da música. A obra de Cage é tida como uma das percursoras da arte conceitual, que, no fim da década de 1960, questionou a feitichização do objeto, promovendo ações efêmeras, que não pudessem ser comercializadas pelo mercado.
Esses trabalhos internacionais conversam com a produção brasileira, como a de Artur Barrio e Ivens Machado, presente na coleção do MAC. Ao propor o diálogo entre as obras, a exposição agrega novas leituras ao acervo do museu, que foi protagonista na difusão da arte conceitual no País. “Durante a gestão de Walter Zanini (1963-1978), o MAC teve um papel fundamental, tanto na concepção das obras, oferecendo materiais e equipamentos, quanto no apoio aos artistas, criando um lugar onde esse tipo de produção fosse conhecida e valorizada”, pontua o curador.
Matriz do Tempo Real contempla vários formatos, tais como vídeo, fotografia e pintura. “A exposição contém uma variedade de artistas que, de maneiras bastante distintas, possuem o desejo de capturar o tempo”, afirma Jacopo.
O anseio de registrar a passagem dos dias aparece, por exemplo, na série de vídeos Time as Activity (Tempo como atividade), do argentino David Lamelas. Iniciado em 1969 e levado adiante até hoje, o trabalho é composto por registros de cenas banais em diferentes cidades ao redor do mundo. Nos vídeos, o artista sempre informa a duração de cada uma das cenas, assim como o dia e a hora em que foram capturadas. A paisagem é o que menos importa, sendo a filmagem do próprio tempo o teor principal do trabalho.
A mostra também destaca a linguagem da performance, representada pela artista Ana Amorim. Ao longo da exposição, a paulistana apresentará a performance Contar Segundos, concebida em 1984. Na ação, a artista conta, literalmente, um por um, os segundos de uma hora. Para cada segundo, Ana traça uma linha em um caderno que se torna, assim, o registro da performance.
A exibição de registros, por sinal, é um aspecto importante de alguns trabalhos que, por serem efêmeros, só podem ser conhecidos pelo público através dos documentos. É o caso do inglês Hamish Fulton. Depois de realizar uma caminhada de 47 dias e 1644,75 quilômetros, o artista decidiu que toda sua obra seria baseada no ato de andar.
Em museus e galerias, ele exibe textos e fotos que retratam suas experiências, como em No Talking for Seven Days [Sem falar por sete dias], registro de uma viagem que realizou pela Escócia. Porém, o trabalho em si continua sendo o ato de andar, como o inglês já ironizou em mais de uma ocasião: “Uma obra de arte pode ser adquirida, mas uma caminhada não pode ser vendida”.
Em sua trajetória, Artur Barrio também ficou conhecido por suas obras que questionavam o sistema da arte. Nas famosas Situações, criadas a partir de 1969, o luso-brasileiro intervinha na cidade, utilizando elementos orgânicos como papel higiênicos, sangue e carne putrefata. Em estado de deterioração, os próprios materiais já tratavam da efemeridade, questão também evidente em Relógio Navalha, exibido na mostra. O trabalho traz duas fotos que registram uma ação experimental, realizada em 1973. Na ocasião, Barrio colocou uma lâmina de barbear em frente ao espelho, concebendo uma imagem que se aproximava à de ponteiros de um relógio, apresentando “uma clara alusão à ação potencialmente destrutiva do tempo”, como afirma o curador.